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As Mulheres Intelectuais

Obra de Abigail de Andrade, Sem título, coleção de Sérgio e Hecilda Fadel

Houve um período em que as mulheres escreviam para si, por meio de diários e poemas que eram apreciados no silêncio de seus aposentos, já que eram consideradas aptas à maternidade e ao casamento e inaptas para maiores elaborações intelectuais. Vivia-se em uma sociedade patriarcal e machista que delegava apenas ao sexo masculino o direito de publicar seus textos literários. 

Algumas enfrentaram essa imposição e romperam a barreira social ao criar espaços que, até então, eram ocupados pelo sexo masculino: publicaram livro de poemas; criaram periódicos dirigidos e escritos por e para mulheres; escreveram em periódicos em prol da participação política da mulher; fundaram escolas mistas, asilos e orfanatos para crianças carentes; organizaram atividades pela abolição da escravatura; graduaram-se em cursos como Medicina, Direito e Odontologia; organizaram-se para ter aulas à noite, pois trabalhavam durante o dia; presidiram instituições voltadas à proteção da mulher trabalhadora; assumiram liderança para auxiliar em catástrofes; obtiveram brevê de piloto; lutaram e morreram ao defender seus direitos políticos e sociais; e tantas outras atividades que ainda se encontram invisibilizadas pela falta de pesquisa, de registro e de documentação.

 

Luciana de Abreu foi uma dessas mulheres que saiu de seu suposto papel de submissão ao ser a primeira mulher brasileira a subir, em 1873, em uma tribuna e discursar sobre liberdade de instrução e de trabalho para as mulheres, na Sociedade do Partenon Literário. Discurso que até hoje ecoa... 

       

 

“...Minhas senhoras, nós temos sido vítimas dos prejuízos das preocupações do século; nós temos sido olhadas como seres à parte na grande obra da regeneração social, quando sem nós impossível seria à humanidade aperfeiçoar- se e progredir; porque nós somos mães e o primeiro e mais íntimo vagido da infância do homem recebemo-lo nós em nosso seio, dispensando-lhe os cuidados que são a nossa vigília, as nossas lágrimas, as nossas dores e alegrias, o nosso amor enfim. Nós temos sido caluniadas, dizendo-se que somos incapazes dos grandes acontecimentos, que somos de inteligência fraca, de perspicácia mesquinha; e que não devemos passar de seres caseiros, de meros instrumentos do prazer e das conveniências do homem...

...Vós, que rebaixastes a dignidade da mulher, que a considerastes como um ser quase desprezível, vinde! Eu vos chamo a juízo no tribunal de vossa própria razão! O ser que vilipendias deu a vida a vossos heróis e a vossos sábios!               

...Negaste-nos o direito de obter cargos e honras, entretanto deixaste-nos o direito de distribuí-las. Fechaste-nos as portas da ciência; mas nunca podereis privar-nos de avassalar os sábios e os heróis com os recursos de vosso engenho. Em conclusão, senhoras, nós aparentemente os vencidos, somos na realidade os vencedores.” 

 

 

... pois denuncia desigualdades de gênero que ainda permanecem, mesmo que alguns direitos tenham sido conquistados com esforço, luta e determinação.

 

 

Luciana de Abreu
Veja a seguir alguns exemplares de jornais brasileiros criados por mulheres no século XIX

O Sexo Feminino, Echo das Damas e O quinze de Novembro, Acervo Biblioteca Nacional; Escrínio, Acervo Musecom

Abaixo, pinturas a óleo cuja representatividade está centrada na mulher como sujeito, e não como objeto.
Clique nas imagens
The Chess Game, óleo sobre tela de Sofon
Mulheres protestando, de Di-Cavalcanti,
Autorretrato de Adelaide Labille Guiard
As Meninas, de Alice Soares. Acervo Pinacoteca Aldo Locatelli.
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