Exposição Narrativas do Feminino
Leques do Acervo do Museu Julio de Castilhos
No final do século XIX e primeiros anos do século XX, pelos cômodos da casa onde está sediado o Museu Julio de Castilhos, no Centro Histórico de Porto Alegre, transitavam, com seus vestidos longos, cabelos presos em coques e modos refinados, Honorina de Castilhos e suas filhas Julia, Eugênia, Otília e Ambrosina.
Muito pouco se sabe sobre Honorina para além do seu gosto pela leitura, em pintar telas e tocar piano, revelação encontrada nas cartas em que Julio de Castilhos, quando ainda era seu noivo, recomendava-lhe os clássicos da filosofia, música e os mestres da pintura, para que “adquirisse a cultura necessária ao papel de esposa de um político influente”.
Eram tempos em que as mulheres eram invisibilizadas. Seu espaço era o privado, onde administravam o lar e os bastidores das carreiras profissionais e políticas de seus homens. Cabia-lhes serem filhas amorosas e obedientes, ótimas mães e devotadas esposas. Eram preparadas para viverem esses papéis desde a escola, onde cursavam técnicas domésticas como parte obrigatória do currículo. Consideravam-nas inaptas para o aprendizado das ciências exatas, destinado somente aos meninos.
Um dos exemplos que encontramos desse “não lugar” da mulher, neste período, são os documentos da coleção fotográfica do Museu, em que as mulheres retratadas não têm nomes e são identificadas como “esposa ou filha do fulano de tal”. Narrativas do Feminino traz à cena representações da vida social e do cotidiano dessas mulheres, a partir de peças de nossas coleções.
Entre a roupa lavada na pedra por negras forras, o luxo das festas da elite gaúcha e a coragem de enfermeiras da Segunda Guerra Mundial, propomos uma reflexão sobre os caminhos de desigualdades de gênero que perpassaram o Império e avançaram pela República, referendadas pela legislação da época. Não foram dias fáceis para as mulheres e menos ainda para aquelas de classe baixa, cujo trabalho era desvalorizado apesar de fundamental para o bom desempenho social das mulheres da elite: lavadeiras (negras, em sua maioria) lavavam inclusive os “panos de menstruação” das senhoras da sociedade, produziam os quitutes de suas festas, costuravam, passavam e engomavam suas roupas, lustravam os pisos de suas casas em troca de alguns “réis” (moeda da época) ou ainda por um lugar para dormir e sobras de comida.
Narrativas do Feminino é uma exposição de longa duração, com alterações a cada seis meses, fazendo itinerar o olhar de quem a visita, seja em sua versão física ou nesta versão virtual, de modo a promover reflexões, debates, trocas e visibilidades sobre o feminino e a trajetória de luta das mulheres de todos os tempos.