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A Guerra Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos (1835-1845), eclodiu no Rio Grande do Sul e configurou-se na mais longa revolta brasileira do período regencial. Durou quase 10 anos e foi liderada pela classe dominante gaúcha, formada por fazendeiros que usaram as camadas pobres da população no apoio  à luta, quer como soldado ou como suporte às estruturas de batalha.

"Alegoria Farroupilha" por Guilherme Litran

Acervo MJC

As causas

O estado do Rio Grande do Sul teve sua incorporação tardia nos domínios portugueses durante o período colonial. Para a coroa portuguesa, a região significava acesso ao contrabando dos recursos minerais de Potosí (Bolívia), que desciam pelo rio da Prata. Por isso, a região de fronteira tornou-se um lugar de disputa entre lusitanos e castelhanos, militarizando sua população, desvinculando-a da agropecuária de exportação.
Durante o século XVII, o Rio Grande do Sul foi disputado por Jesuítas e Bandeirantes que tinham interesse na mão de obra indígena. Devido aos ataques dos portugueses, os jesuítas se retiraram com os indígenas para outra margem do rio Uruguai, deixando o gado que criavam nas reduções. O rebanho abandonado no pampa se reproduziu, tornando-se bravio e formando uma imensa reserva de gado, conhecido como “Vacaria del Mar”. No final do século XVII, os portugueses começaram a se interessar demasiadamente por aquela região devido à quantidade exorbitante de gado.


Ao longo do século XVIII e início do século XIX, a configuração do Rio Grande do Sul ganha importância no cenário nacional, sua economia estava voltada para o fornecimento de carne, que aquecia o mercado interno, e militarizada, devido aos confrontos com os espanhóis nas áreas fronteiriças. Os proprietários de terra passam a servir a coroa como protetores da fronteira contra os espanhóis, gerando um conflito pelo poder com os militares que estavam na região.


Assim, o Rio Grande do Sul foi palco das disputas por territórios entre portugueses e espanhóis desde o século XVII. Na ideia dos líderes locais, o fim dos conflitos deveria inspirar o governo central a incentivar um crescimento econômico do sul, com o pagamento às gerações de famílias que se voltaram para a defesa das fronteiras do país desde há muito tempo. Mas não foi isso que ocorreu. 


A partir de 1821, especialmente após a independência em 1822, o governo central passou a impor a cobrança de pesadas taxas sobre os produtos rio-grandenses, como charque, erva-mate, couros, sebo, graxa etc. 


No início da década de 1830, o governo aliou a cobrança de uma taxa extorsiva sobre o charque gaúcho a incentivos para a importação do charque platino. Ao mesmo tempo, aumentou a taxa de importação do sal, insumo básico para a fabricação do produto.
Outro problema que descontentava os gaúchos era o fato de as tropas, que lutavam nas guerras em defesa da fronteira sul do Império do Brasil, terem como comandantes pessoas do centro do país. Tudo isso causava uma grande revolta na elite rio-grandense. Em 1834, mesmo com o Ato Adicional que tentava dar mais poder às províncias, houve uma insatisfação das elites oligárquicas gaúchas.
Em 20 de setembro de 1835, com o domínio da Capital Porto Alegre pelos estancieiros insatisfeitos e comandados por Bento Gonçalves, iniciou a Guerra dos Farrapos. Começando, assim, a mais longa das revoltas do período Regencial.


Dentre as reivindicações iniciais dos revoltosos,  estava a troca do Presidente da Província por um de sua confiança e a solicitação para  que o Império, controlado pelos Regentes, desse mais atenção ao Rio Grande do Sul.

A Guerra Farroupilha

Em 20 de setembro de 1835, os rebeldes tomaram Porto Alegre, obrigando o presidente da província, Fernandes Braga, a fugir para Rio Grande.

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Bento Gonçalves, que planejou o ataque, empossou no cargo o vice Marciano Ribeiro. O governo imperial nomeou José de Araújo Ribeiro para o lugar de Fernandes Braga, mas este nome não agradou os Farroupilhas, pois o principal objetivo da revolta era a nomeação de um presidente que defendesse os interesses rio-grandenses, decidindo, então, prorrogar o mandato de Marciano Ribeiro até 9 de dezembro. Araújo Ribeiro partiu para Rio Grande e tomou posse no Conselho Municipal da cidade portuária. Bento Manoel, um dos líderes do 20 de setembro, decidiu apoiá-lo e rompeu com os Farroupilhas.

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Bento Gonçalves buscou construir a conciliação convidando Araújo Ribeiro para tomar posse em Porto Alegre, que recusou. Com a ajuda de Bento Manoel, Araújo conseguiu a adesão de outros líderes militares, como Osório.

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Em 3 de março de 1836, o governo ordenou a transferência das repartições para Rio Grande, sendo um sinal da ruptura. Em represália, os farroupilhas prenderam em Pelotas o conceituado major Manuel Marques de Souza, levando-o para Porto Alegre e confinando-o no navio-prisão Presiganga, ancorado no Guaíba.

Os imperiais passaram a planejar a retomada de Porto Alegre, o que ocorreu em 15 de julho. O tenente Henrique Mosye, preso no 8º Batalhão de Caçadores, em Porto Alegre, subornou a guarda e libertou 30 soldados, que tomaram importantes pontos da cidade e libertaram Marques de Souza e outros oficiais presos no Presiganga. Marciano Ribeiro foi preso, em seu lugar foi posto o marechal João de Deus Menna Barreto. Bento Gonçalves tentou reconquistar a cidade duas semanas depois, mas foi abatido. Entre 1836 e 1840, Porto Alegre sofreu 1.283 dias de sítio, mas nunca mais os farrapos conseguiriam tomá-la.

Em 9 de setembro de 1836, os farrapos, comandados pelo General Netto, impuseram uma violenta derrota ao coronel João da Silva Tavares, no Arroio Seival, próximo a Bagé. Empolgados pela grande vitória, os chefes farrapos decidiram no local, em virtude do impasse político que o conflito havia chegado, pela proclamação da República Rio-Grandense (ou República Piratini). O movimento deixava de ter um caráter corretivo e passava ao nível separatista.

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De 1835 a 1839, houve a dominação de várias cidades rio-grandenses pelas tropas farroupilhas. Por meio de batalhas vencidas, o general Antonio de Souza Netto, ainda em campo de batalha, proclamou a República. Um dia após a proclamação, Bento Gonçalves foi preso na batalha de Jacuí e enviado ao Rio de Janeiro, em seguida foi para Salvador. Mesmo ausente, Bento Gonçalves foi declarado o Presidente da República Farroupilha, em 1837. Com ajuda da maçonaria, conseguiu fugir e assumir a presidência da República recém fundada. Neste período, os farrapos Garibaldi e Davi Canabarro invadiram Santa Catarina e dominaram a cidade de Laguna, fundando a República Juliana. A Guerra e a República Rio-Grandense se sustentaram com a produção gaúcha, que era escoada pelo porto de Montevidéu como se fosse uruguaia, entrando desta forma no mercado brasileiro.

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Entre 1840 a 1842, houve uma estabilização da guerra. O governo central não mantinha os seus exércitos no Sul, uma vez que enfrentava outras rebeliões. Em 1843, registrou-se a decadência farroupilha, o governo Imperial pode concentrar-se apenas no sul do País, pois já havia acabado com as outras revoltas do período.

Porongos

Luís Alves de Lima e Silva (Barão de Caxias) recebeu instruções do Império, que temia o avanço de Rosas sobre o território litigante, para propor condições de rendição honrosas aos revoltosos, como anistia dos oficiais e homens, incorporação ao Exército Imperial nos mesmos postos e a escolha do Presidente da Província pela Assembleia Provincial, como também taxação sobre o charque importado do Prata. 

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Entretanto, uma questão permanecia insolúvel: a dos escravos libertos pela República ao servirem o exército republicano. Para o Império do Brasil, era inaceitável reconhecer liberdade dada a escravos insurgentes, embora anistiasse os líderes da mesma revolta. 

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A solução foi costurada no Massacre de Porongos, o último conflito da Guerra, quando David Canabarro e o Barão de Caxias arquitetam uma emboscada aos Lanceiros e Infantes Negros. 

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Em 14 novembro de 1844, estavam todos em pleno armistício, suspensão de armas como condição fundamental para que os governos pudessem negociar a paz, levando ao relaxamento da guarda no acampamento da curva do arroio Porongos. 

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Canabarro e seus oficiais imediatos foram a uma estância próxima visitar a viúva de um ex-guerreiro farrapo. Enquanto o coronel Teixeira Nunes e seu corpo de Lanceiros Negros descansavam, os legalistas, liderados pelo coronel Moringue, apareceram de surpresa, rompendo o decreto de suspensão de armas e atacando traiçoeiramente os Lanceiros Negros, cerca de 100 homens de mãos livres, que resistiram e lutaram até a aniquilação, em uma posição de difícil defesa. Os sobreviventes foram embarcados para o Rio de Janeiro e vendidos como escravos. Alguns escaparam e fugiram para o Uruguai, juntando-se posteriormente ao grupo de ex-escravizados do General Netto. Além disso, foram presos mais de 300 republicanos entre brancos e negros, inclusive trinta e cinco oficiais.

"Paz Honrosa"

Em 1845, os farrapos aceitaram a "paz honrosa", que atendia muitas de suas antigas reivindicações: as elites teriam o direito de escolher o seu presidente; as dívidas seriam pagas pelo governo central; os generais farrapos poderiam passar para o exército brasileiro com os mesmos postos que ocupavam nas forças rebeldes; o direito de propriedade e a segurança individual seriam garantidos; os prisioneiros de guerra seriam soltos; taxa de 25% sobre a entrada do charque uruguaio no mercado brasileiro; reconhecimento pelo governo da liberdade dos escravizados que serviram como soldados.

Conheça, no mapa abaixo, os principais locais do RS onde foram travados combates da Guerra

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