MULHERES NA GUERRA
CIVIL FARROUPILHA
Anita Garibaldi
Anita Garibaldi. Óleo sobre tela.
Autor desconhecido
Acervo MJC
Ana Maria de Jesus Ribeiro nasceu dia 30 de agosto de 1821 em Morrinhos do Mirim, município de Laguna, Santa Catarina. Era filha de Bento Ribeiro da Silva e Maria Antônia de Jesus Antunes. A família tinha origem humilde e valorizava a cultura e a educação. Quando seu pai faleceu, Ana casou-se aos 14 anos com o sapateiro local Manuel Duarte de Aguiar. Era uma jovem de caráter independente, que por influência de um tio farroupilha, Antônio Ribeiro da Silva gostava de participar das questões políticas que promoviam liberdade e justiça.
Nessa época o Brasil vivia o conturbado período Regencial, com eclosão de várias guerras civis sendo uma delas, a Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul em 1835 ainda sem o caráter separatista. O movimento comandado por Bento Gonçalves, era ligado aos latifundiários escravistas e também a grupos republicanos separatistas. Inicialmente, entre outras causas, lutava contra o Império brasileiro visando reduzir as taxações dos produtos gaúchos, em especial o charque, que era cobrado em valor maior que o dos produtos oriundos da Bacia do Rio da Prata. Quando da eclosão da revolta em 1835 o esposo de Ana apoiou o lado dos imperiais e aparentemente teria sido morto em combate em data não determinada entre 1837 e 1838. Para alguns, no entanto, Manuel simplesmente teria abandonado Ana quando da eclosão da guerra. O fato concreto é que ele desaparece da história sem deixar vestígios.
Em 1839, Ana conhece Giuseppe Garibaldi. O comandante italiano chegara ao Rio de Janeiro em fins de 1835, em busca de exílio após ser condenado à morte em seu país. Quando Garibaldi ficou sabendo da Guerra Civil Farroupilha logo se envolveu no apoio em defesa da causa. Em 1836, o movimento rebelde da província assume caráter separatista ao ser proclamada a República Rio Grandense.
Todavia, os imperiais controlavam a cidade de Rio Grande cortando a saída para o mar, o que provocava o enfraquecimento da economia farroupilha com o estancando das exportações e importações. Como solução para esse problema procurou-se uma saída para o oceano, com Garibaldi e Davi Canabarro seguindo para Laguna onde com seus homens, armas e um veleiro, tomaram a cidade e proclamaram a República Juliana, confederada a República Rio-Grandense. Foi nesse momento que Ana e Garibaldi se conheceram.
Apaixonaram-se à primeira vista e a partir de então Garibaldi passou a chamá-la de Anita, seguindo sempre unidos em qualquer situação. No dia 20 de outubro de 1839, Anita subiu a bordo do navio de Garibaldi para uma expedição até Cananéia, abandonando definitivamente sua vida para trás. Em batalha, era uma mulher valente e não media esforços: chegou a carregar e disparar canhões na batalha de Laguna e lutou bravamente durante o combate em Imbituba, Santa Catarina.
Anita foi capturada pelas tropas do Império durante a Batalha dos Curitibanos em 1840, mas conseguiu executar uma fuga espetacular nadando pelo rio Canoas e indo ao encontro de Garibaldi em Vacaria. Realizou essa façanha já grávida de seu primeiro filho, Menotti.
Em 1841, Garibaldi pede a Bento Gonçalves a dispensa de sua participação na Guerra Farroupilha. Ele e Anita seguem para Montevidéu, engajando-se na frente da defesa contra o ex-presidente do Uruguai, Oribe. Em 26 de Março de 1842, Anita casa-se com Garibaldi na paróquia de San Bernardino, passando a ser conhecida a partir de então pela alcunha de Anita Garibaldi. Aparentemente, ao que consta das certidões de casamento de Anita, ela não teria adotado oficialmente o sobrenome de nenhum dos maridos.
Em fins de 1847, Anita e os filhos viajam para a Itália e em 1848 é a vez de Garibaldi e lá continuam envolvidos em lutas pela a unificação do país, que na época estava dividido em reinos e repúblicas, além dos territórios pertencentes ao Papa. Sem sucesso na empreitada, são obrigados a fugir de Roma após a derrota na Batalha do Gianicolo em 1849. Assim seguem viagem para a Suíça, disfarçados de soldados. Ao passarem pela cidade de San Marino, a embaixada norte-americana ofereceu um salvo conduto para tirar o casal da situação de risco, mas Anita e Giuseppe não aceitaram por acreditarem que uma atitude de “rendição” poderia impactar negativamente o processo de unificação.
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Continuaram em fuga e Anita adoeceu durante a viagem, na região próxima a província de Ravenna. Estava gestante de cinco meses e não resistiu a uma forte crise de febre tifóide, falecendo nos braços do esposo no dia 4 de agosto de 1849 em Mandriole, Itália. Com o momento de perseguição que enfrentava, Garibaldi precisava continuar em fuga e não conseguiu acompanhar o sepultamento de Anita. O revolucionário italiano seguiu viagem, permanecendo exilado dez anos fora da Itália. Posteriormente, foi erguido um monumento em homenagem a Anita Garibaldi na colina de Gianicolo em Roma, junto ao local onde estão enterrados seus restos mortais. A casa onde Anita residiu em Laguna, Santa Catarina, foi transformada em museu (Museu Casa de Anita) reunindo o acervo histórico das batalhas e objetos que pertenceram à heroína. Além deste, em Laguna, também existe o Museu Histórico Anita Garibaldi.
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Por lutar na América do Sul (Brasil) e Europa (Itália) ficou conhecida como “Heroína de Dois Mundos.
Anita e Garibaldi passando por dificuldades econômicas junto com seus dois filhos, Menotti e Rosina, em Montevideo. Desenho de Edoardo Matania (Milão, 1883)
Anita com forte febre sendo conduzida rumo a feitoria de Mandriole. Desenho de Edoardo Matania (Milão, 1883)
Morte de Anita em Mandriole, Itália, em 04 de agosto de 1849. Desenho de Edoardo Matania (Milão, 1883)
Anita e Garibaldi passando por dificuldades econômicas junto com seus dois filhos, Menotti e Rosina, em Montevideo. Desenho de Edoardo Matania (Milão, 1883)
Ópera Anita Garibaldi
"Anita Garibaldi" é uma ópera em três atos e cinco quadros de Heinz Geyer, com libreto de José Ferreira da Silva.
O maestro Heinz Geyer nasceu em Mülheim, Alemanha, em 27 de junho de 1897 e faleceu em Blumenau em 13 de junho de 1982. Heinz Geyer foi um compositor alemão que por mais de 50 anos viveu e trabalhou no Brasil. Heinz Geyer chegou em Blumenau após a primeira guerra mundial em 1921. Deveria seguir até Buenos Aires, mas acabou se interessando pela cidade catarinense, onde fixou residência.
Tornou-se um dos líderes da Sociedade Teatral Frohsinn, mais tarde Sociedade Dramático-Musical Carlos Gomes, embrião do atual Teatro Carlos Gomes do qual foi o diretor por vário anos. No comando do teatro, organizou sua orquestra e coral, além de compor e produzir óperas. Também escreveu canções para coro infantil, música para balé e suítes baseadas no folclore brasileiro. Regeu a orquestra do teatro pela última vez em 1971. Suas principais obras foram as óperas "Anita Garibaldi" em três atos, lançada oficialmente em 1950, "Viva o Ministro", comédia musical em atos, e "O Imigrante", uma obra dramático-musical em 1974.
José Ferreira da Silva nasceu em Tijucas em 16 de janeiro de 1897, falecendo na mesma cidade em 31 de dezembro de 1973. Ferreira da Silva foi um jornalista, político, historiador e escritor brasileiro. Foi prefeito municipal de Blumenau, de 1938 a 1941.
Inspirada na vida de Anita Garibaldi, "heroína de dois mundos", esta obra começou a ter sua música composta, arranjada e orquestrada em três atos a partir de 1939, pelo maestro Heinz Geyer com libreto escrito por José Ferreira da Silva. A "Ópera Anita Garibaldi" foi apresentada para o público blumenauense pela primeira vez no Teatro Carlos Gomes em 1941. No entanto, a estréia oficial ocorreu no dia 2 de setembro de 1950 durante a programação do centenário da cidade de Blumenau (SC), com regência do próprio compositor. No elenco original estavam Norma Cresto (Anita), Lubo Maciuk (Giuseppe Garibaldi), Leonor Lydia Fuchs, Vitor Bona, Mario Kielwagen e Caetano Deeke Figueiredo.
Houve mais quatro apresentações, distribuídas em duas pequenas temporadas no Teatro Carlos Gomes, a primeira nos dias 04 e 06 de setembro e a segunda em 07 e 09 de dezembro de 1956.
"Anita", como Geyer a tratava carinhosamente, foi encenada em São Paulo sendo aplaudida de pé pelo grande público presente. A apresentação deu-se no dia 25 de novembro de 1957 para um público que a aplaudiu de pé. Logo em seguida, em 31 de dezembro de 1957, Geyer vendeu para Fred Hering os direitos da ópera.
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A ultima apresentação da ópera Anita Garibaldi aconteceu no palco do Teatro Carlos Gomes nos dias 1º, 3 e 6 de junho de 1963.
Os elencos
Fonte: SMC / Arquivo Histórico José Ferreira da Silva / Acervo Iconográfico-Fundo Memória da Cidade – Blumenau – Sociedades Culturais – Sociedade Dramático – Musical
Na estréia (1950), Anita foi vivida por Norma Cresto e coube a Lubo Maciuk interpretar Garibaldi. O elenco contou com muitos blumenauenses, como Leonor Lydia Fuchs, Vitor Bona, Mario Kielwagen e Caetano Deeke Figueiredo, entre outros. A segunda temporada (1956 Blumenau/1957 São Paulo) teve no elenco Maria Sá Earp como Anita, Manrico Patassini como Garibaldi, José Perrota como o Coronel Albuquerque, Diva Allegrucci como Maria da Glória, Vitor Bona como João.
Já em 1963 os papéis principais foram vividos por Hercília Block (Anita), Felippo Baroni (Garibaldi), José Perrota (Cel. Albuquerque) e a blumenauense Rita Schwabe (Maria da Glória).