MULHERES NA GUERRA
CIVIL FARROUPILHA
Intelectuais
As intelectuais do período tiveram uma educação erudita, que as colocava em condições de reivindicação pública dos direitos das mulheres. Tendo na maioria das vezes seu ganho obtido por seu ofício de profissão liberal (quase sempre de educadoras), assim como alguma posse patrimonial, enfrentavam dificuldades, pois o fato de evidenciarem as mazelas provocadas pelo machismo, as colocava em uma posição mal vista aos costumes da época.
Maria Josefa Pereira Pinto
Jornalista | Educadora | Poetisa
Considerada a primeira jornalista do Brasil, fundou o jornal Belona irada contra os sectários de Momo, semanário monarquista que circulou em Porto Alegre, entre 1833 e 1837, cujo conteúdo era de oposição crítica aos farroupilhas no qual atirava "sátiras incisivas e eruditas" para ridicularizar os "pretensiosos políticos". Segundo relatos da época, seu jornal, por ser legalista, foi destruído pelos farroupilhas, não tendo deixado nenhum exemplar.
Vanguardista não somente no jornalismo, abriu a primeira escola mista de Porto Alegre. Além de atender meninos e meninas em um mesmo estabelecimento, o que não era comum, ousou ainda mais ao ensinar latim, geografia e filosofia.
Modelo de prensa utilizado para produção jornalística no período. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Handtiegelpresse_von_1811.jpg
Nísia Floresta
Educadora | Poetisa
Escritora | Ativista dos direitos das mulheres​​
Fotografia de Nísia Floresta. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/N%C3%ADsia_Floresta4.jpg
Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo adotado por Dionísia Gonçalves Pinto, nascida em 12 de outubro de 1810, em Papari, na capitania da Paraíba (atual Rio Grande no Norte). Mulher notável, marcou a sua trajetória na história do país por lutar por uma educação emancipatória para as mulheres que incluísse línguas, ciências naturais e sociais, matemática e artes. Diferente do padrão imposto na época onde para as mulheres era unicamente reservado o ensino de lides domésticas e boas maneiras.
Viveu no Rio Grande do Sul de 1833 até 1837. Em seu primeiro ano na capital ficou viúva e assumiu a posição de matriarca da família, dedicando-se ao magistério ao abrir uma escola. Não consta registro qual escola seria, mas provavelmente tenha sido em sua própria casa, como era o costume da época.
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Seu primeiro livro Direitos das mulheres e injustiça dos homens foi lançado em 1832, e sua segunda edição em 1833, em Porto Alegre. Por muito tempo se acreditou que a obra era uma tradução livre de Vindications of the rights of woman, de Mary Wollstonecraft, pois a própria Nísia se declarava inspirada por ela. No entanto, estudos recentes de Pallares-Burke (1995) e Oliveira & Martins (2012), estipulam que a tradução de Nísia advém da obra Woman Not Inferior to Man, texto de autoria que se esconde sob o pseudônimo de Sophia e que foi, por sua vez em grande parte, uma tradução do livro De l’Égalité des Deux Sexes, de Poulain de la Barre. O mesmo é um manifesto sobre os direitos das mulheres para a instrução e o trabalho, exigindo que sejam vistas como iguais e merecedoras de respeito pela sociedade.
Estima-se que tivesse simpatia com célebres Farroupilhas, dentre eles Anita e Giuseppe Garibaldi, pois os ares da revolta farrapa atiçavam também seu lado mais político liberal e republicano. Nísia os encontraria mais tarde, depois de terminada a Guerra, quando foi morar na Europa, tendo dedicado a eles algumas páginas de seu livro na época, Três Anos na Itália: seguidos de uma viagem à Grécia.
Positivista, manteve diálogos com Auguste Comte quando vivia na França.
Folha de rosto da 2º edição de Direitos das mulheres e injustiça dos homens publicado em Porto Alegre, em 1833. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Direitos_das_mulheres_e_injusti%C3%A7as_dos_homens.jpg
Ana de Barandas
Elite porto-alegrense | Escritora
Ana Eurídice Eufrosina de Barandas, nascida em 8 de setembro de 1806. Pertencente à elite porto-alegrense, na sua infância morava com sua família na rua Senhor do Passos, mesclando os finais de semana no sítio Belmonte (atual bairro Passo da Areia), lá eram realizados saraus promovidos pela sua família, assim, desde cedo Ana teve contato com a música e a cultura clássicas.
É provável que seu encontro às ideias feministas da época tenham sido através de contato com Nísia Floresta, visto que ambas compartilhavam muitas afinidades, além de serem praticamente vizinhas, moravam na Rua Nova, atual Andrade Neves, no centro da capital.
Rua Nova, atual Rua Andrade Neves. Foto déc. 20.
Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/10347
Talentosa cronista de sua época, seus escritos só puderam ser publicados depois de 1843, após o seu divórcio, quando se desvencilhou da incômoda necessidade legal de consentimento do marido para tal. Junto a isso, Ana assume também a posição de matriarca da família, caindo sobre si todo o peso sócio-moral de uma época que repudiava fortemente a condição de mulher desquitada.
Sua obra O Ramalhete ou Flores escolhidas no Jardim da Imaginação foi publicado pela tipografia Fonseca de Porto Alegre, no ano de 1945. Trata-se de um conjunto de crônicas e poesias produzidos e reunidos pela autora ao longo de sua vida. Nela retrata as suas experiências de perda e sofrimento com a Guerra Farroupilha, assim como no conto Diálogos, em que descreve um debate entre as ideias feministas de Mariana (alter ego da autora), enfrentando o machismo dominante de Humberto (ultraconservador) e Alfredo (o primo conciliador).
Folha de rosto do livro O Ramalhete ou Flores escolhidas no Jardim da Imaginação