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Mulheres da elite

​As mulheres pertencentes ao grupo social das Estancieiras (elite patronal dona de terras) desde sempre eram preparadas para assumir o papel de esposas e mães, administradoras dos assuntos domésticos da casa e coadministradoras do patrimônio da família, mas o que ocorria em alguns casos, como o falecimento do marido, é que estas assumiam a posição de matriarcas, responsabilizando-se inteiramente pela família. Demonstravam autoridade e autonomia de mando, sim, mas seguindo os regramentos tradicionais de uma elite patriarcal.
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Importante desvincular estas figuras femininas representativas históricas de seus maridos, pois embora algumas delas sejam casadas, filhas ou mães de personagens masculinos da Farroupilha e  tendo seus sobrenomes diretamente ligados a eles, deve-se destacar sua atuação enquanto indivíduo mulher, representantes deste gênero e inseridas nesse fato histórico.

Bernardina Barcelos de Almeida

Elite Farroupilha | Estancieira​​
 

Nascida em Povo Novo, em 1806, era filha de um dos primeiros membros da primeira geração da elite charqueadora pelotense. Em 1824, casou-se com Domingos José de Almeida, comerciante mineiro há pouco estabelecido em charqueada vizinha a de sua família. Com a eclosão da Farroupilha, o contexto de afastamento conjugal obriga a troca de correspondências, assim, percebe-se que muitas decisões da administração feminina relativas à educação dos filhos e bens do patrimônio começaram a ser discutidas não mais no âmbito das conversas privadas cotidianas, das quais não teriam acesso, mas por meio das muitas cartas trocadas.

Essa produção epistolar em torno do cotidiano de Bernardina lhe tornou um dos nomes mais recorrentes nas correspondências que se encontram na Coleção Varela. Suas comunicações demonstram seu poder igual de decisão sobre a administração da estância, assim como o peso que possuía na manutenção política da sua rede de relações na elite estancieira.

Maria Angélica da Fontoura Corte Real

Elite Farroupilha | Matriarca​​
 

Nascida em 17 de novembro de 1790, em Rio Pardo, casou-se em primeiras núpcias com o Capitão de Dragões Francisco de Borja Almeida Corte Real, tendo ficado viúva em 1917. Desta primeira união teve 4 filhos, dentre eles Afonso José de Almeida Corte Real. Em uma segunda união, Maria Angélica refez sua vida com o comendador José Thomaz de Lima, inspetor da Real Feitoria de Linho Cânhamo desde 1822, tendo com o mesmo mais 4 rebentos. O interessante é que essa união seria legalizada apenas em 1840, para fins de legitimação dos filhos do casal.

 

Outra questão levantada pela bibliografia consultada seria também que um dos motivos pelos quais a união tenha sido feita tardiamente, mesmo não havendo impedimento legal ou moral para tal, foi a defesa das posses de Maria Angélica diante do segundo marido. Em inventário aberto após a morte de Maria Angélica, em 28 de junho de 1847, constatou-se brigas entre os filhos de ambos matrimonios nas quais acusações são feitas pela deterioração do patrimônio da matriarca em sua segunda união. Da mesma feita, José Thomaz de Lima não possuía direito à metade deste patrimônio, apenas a um terço do mesmo, por motivo da união ter sido oficializada quando Maria Angélica já havia completado 50 anos. A questão aí seria, Maria Angélica pensou isso deliberadamente?

 

Na trajetória despojada desta mulher, ainda temos as suas atuações determinantes na Farroupilha. Apoiadora do movimento, organizou junto a outros oficiais farroupilhas a surpreendente fuga de um de seus filhos, Afonso Corte Real (Coronel e ministro da Guerra), que se encontrava preso no Rio de Janeiro desde sua captura na Batalha do Fanfa, em outubro de 1836. Tendo estreita relação com a Família Almeida (Bernardina Barcelos e Domingos José) aparece em momentos se correspondendo com eles. Em uma destas epístolas, recomenda cautela dos farrapos, fornecendo informações sobre as pretensões dos legalistas de "atacar a República".

Jornal "Diário do Rio de Janeiro" de 21 de março de 1837. Folhetim diário da cidade publicava breves boletins, classificados e anunciava a chegada de passageiros dos barcos que atracavam na cidade.

Nota da chegada de Maria Angélica ao Rio de Janeiro na véspera da fuga de seu filho Paixão Corte Real.

O mesmo folhetim no dia seguinte (22 de março de 1837) publicou breve nota da fuga de Paixão Corte Real de seu cativeiro, posterizando para a história o incrível feito de articulação de Maria Angélica na escapada de seu filho.

Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/diario-rio-janeiro/094170

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