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Mito, Lenda e História
2021 - Ciclo 4

Integração cultural pré-colombiana na América do Sul

Antes da chegada dos europeus, habitavam o continente americano diversos povos, designados povos originários. Segundo estudos, em 1491 o hemisfério americano tinha uma população entre 90 milhões e 112 milhões de índios. No que hoje é o Brasil, as estimativas mais recentes apontam que viviam cerca de 10 milhões de indígenas.

​O processo histórico de construção dos laços culturais dos povos indígenas tem apontado que estes povos conviviam entre si, conheciam-se uns aos outros, apesar das grandes distâncias, pois compartilhavam de vários aspectos culturais, sociais. Isso se dava devido aos grandes sistemas de caminhos e estradas ramificados entre o Atlântico e o Pacífico (Capac-ñans, Peabiru, Mairapé e Nhamíni-wi), além do uso de vias fluviais das grandes bacias hidrográficas Amazônica, Orinoco, São Francisco, Tocantins-Araguaia, Paraná e Prata como rotas de deslocamento.

​Os contatos entre as civilizações pré-Incas, Incas e amazônicas (Mojos, Omáguas, Tapajônicos, Xinguanos e Marajoaras) realizavam um extenso comércio plumário através de rotas e de um sistema de trocas, além da disseminação da terra preta de índio, um tipo de solo rico em compostos orgânicos.​

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Pesquisas têm revelado esses deslocamentos, em especial as migrações Tupi-guarani em busca da Terra sem Mal (terra onde não haveria fome, guerras ou doenças). Esse deslocamento pode ter, inclusive, promovido uma grande movimentação de povos, contribuindo na disseminação de mitos ou lendas, como Pay Sumé e o Gran Paititi, este podendo ter um protótipo histórico.​

 

Ao apresentarmos as Máscara Kalapalo, a pegada do Pay Sumé (representação de mitos e lendas ao longo do continente), Leque de Penas (comércio plumário utilização dos sistemas de caminhos e as rotas fluviais), Boleadeira Mamilar (cultura disseminada pela região do prata através de rotas e caminhos ramificados) e Tambor Wari (musicalidade encontrada na América do Sul) como objetos do Museu Julio, exemplificamos essa antiga integração cultural indicando que esse tipo de peça era trocado entre os povos que as produziam.

Forma aproximada de uma planta de pé humano. Espessura irregular. Superfície polida. Formato sugere associação com lenda do Pay Sumé.

Panelas zoomórficas

Quando o Parque  do Xingu é criado em 1961 , as relações entre os grupos  que  lá se instalaram  já implicavam em profundas trocas de  "repertórios e cosmologias xamânicos" sobre seres-espíritos não humanos que habitam esse mundo em comum das sociedades Xinguanas, e agem sobre elas de diferentes formas, como agentes causadores de doenças - os itsekeko, para os Kalapalo, e os apapaatai, para os Wauja , centrais na vida desses e outros povos do território do Xingu.

 

É dentro da cosmologia(visão da criação e da natureza do mundo) desses povos e das interpretações dos xamãs(líderes espirituais) e suas práticas rituais  em comum  e com as frentes de colonização da sociedade não indígena, que as máscaras kalapalo e panelas/cerâmicas Wauja podem ser podem ser compreendidas nesta exposição.

 

As panelas zoomórficas são produzidas originalmente a partir de sonhos dos xamãs, tomando formas de muitos e variados animais ( inclusive, atualmente, dos que não fazem parte da fauna da região, conhecidos através das mídias e viagens).

 

Seu uso é mais lúdico e estético, e serve para se comer nelas, especialmente as crianças. De certo modo, marca a passagem de determinada fase da infância, pois são dadas às crianças quando essas são capazes de se alimentarem sozinhas.

 

Adultos também têm suas panelas zoomórficas, que usam para guardar sobras de comidas e temperos, eventualmente comer. Sua principal função seria estética e são referidos sentimentos de ciúmes em relação às panelas que são de pertencimento e uso individual. Nisso diferem de outras panelas de uso cotidiano ( de tamanhos variados e inscrições com desenhos gráficos que expressam visões cosmológicas), e que servem para cozinhar de maneiras muito específicas quanto aos alimentos e às técnicas de preparo (fervura de caldo de mandioca brava, torra de farinha e feitura de beiju, assado/cozido de peixes).

 

Entre os povos Xinguanos há um sistema de trocas, em que os grupos trocam produtos e serviços uns com os outros, no suprimento de suas necessidades. No caso das panelas zoomórficas elas não circulam entre os outros povos xinguanos, mas como artesanato voltado ao comércio externo, uma vez que são muito apreciadas pelos turistas, decoradores e colecionadores do mundo inteiro e se converteram em fonte de renda importante para os Wauja.

Nhambiquara - Coração da Terra
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